13.2.12

As Peras




As peras.


Quando cheguei à cozinha pela manhã, lembrei das peras repousadas na fruteira, postas ali para o tempo as amadurecer - como acontece conosco, aliás. Túrgidas e perfumadas, guardavam a promessa perfeita de sabor. 

Mas fui traído à primeira mordida: a areia do seu gosto já tinha se esvaído de todo.

Lembrei daquele poema de Ferreira Gullar, o único que lembro com frequência, e por isso mesmo o mais precioso, quando ele dizia as peras cansaram-se de suas formas e de sua doçura. As peras dele eram como as minhas. Inocentes e insípidas, esgotadas de tanto esperar.

Pensei então que, de certa forma, esperar seria tornar-se pera, aguardar o momento certo de ser doce e inesquecível. E desesperar-se é deixar de ser pera, esquecer o sabor que a vida nos dá e nos entregarmos ao azedume. Mas, principalmente, pensei que o melhor não é ser uma coisa, nem outra. 

Bom mesmo é jamais deixar de ser pera, prolongando a doçura pela vida inteira.
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2 comentários:

Maísa Picasso disse...

Eu não gosto de pera, amorzinho, mas adoro cheirar você de perfume novo. :*

Maísa Picasso disse...

Quero um post sobre natação!