18.12.08



Aprendiz.

As cordas do violão são como serpentes entre meus dedos. Rebelam-se e escapam primeiro às tarraxas, depois aos pinos. Impaciente eu torço o aço, como se a música se dobrasse mais fácil quanto maior a violência. Trocar as cordas deveria ser mais fácil, e talvez o seja para qualquer violonista. A imperícia me nega qualquer prazer.

Ao aprendiz, o primeiro desafio é conhecer o instrumento. As cordas escapam e me ferem, a ponta que espeta é a defesa ao carinho canhestro da minha inexperiência. Como os espinhos, a indocilidade é natural contra a agressão.

Aqui existe algo que preciso entender.

Talvez a doçura seja mais indicada, e a melodia flua para fora do bojo se eu cercar o violão com cuidados de flor. Então trago o braço para perto dos olhos, bafejo as tarraxas com o meu sopro de vida e o aço se encaixa gentilmente. Empurro a outra ponta sob o pino com o polegar, a digital preenche aquele futuro com a minha marca pessoal. Afino a corda devagar, alinhando meus barulhos com a minha dissonância. Até que entre um som e outro só reste silêncio.

Aprendi. Então eu sou e ressôo, orgulhoso, em Mi maior.