27.2.07



O relógio de sol.


Um relógio de sol é uma varanda imprecisa para o tempo. As horas se medem nas sombras. O dia, pelo brilho que se alcança. A velocidade da luz é de um dia por vez, preocupada menos em correr do que em mostrar. A agulha imóvel aponta para cima e para o norte – e o universo se move à sua volta.

Penso se não somos como relógios de sol.

Que passar pela vida é olhar as sombras avançarem e encolherem lentamente. Que o resultado de uma vida também é o brilho que se alcança. Não para o mundo que nos olha pelo que temos, mas para quem nos percebe e nos acolhe na memória. Como a agulha do relógio, apontamos para o alto – e o universo nos empurra para cima. Em direção à luz.


Eu levo minha música para todos os lugares. E vice-versa.

Comprei um daqueles tocadores de MP3.
Escuto no ônibus, no tempo morto que eu usava para ler e que agora não posso mais, sob pena de descolar a retina.
Perdi um hábito, ganhei outro.
Agora eu vou escutando todas aquelas músicas que nunca tive tempo, entulhadas no computador ou em CDs esquecidos.
E que delícia é ir vendo a paisagem mudar na janela, ao som tipicamente brasileiro do Jorge Ben, ainda mais Ben que Benjor. Os carros passando no ritmo dos Chili Peppers. As pessoas alheias à sutileza da vida, transitando na preguiça apaixonante da Lounge Music.
Que eu me seguro para não cantar. Que eu me contenho para não dançar no meio da rua. Que eu levo uma alegria comigo, bem grudada aos ouvidos.
Meu dia, agora, tem trilha sonora.