29.8.06


Vende-se Licor de Cachoeira.


Eu vi escrito na frente de uma casa. Que sabor será que tem? Licor de cachoeira deve ter gosto de coisa fresca, de matar a sede e o calor, do vento frio que sopra na beira, molhado e puro feito criança no banho. Deve ter gosto de pedras redondas na beira da língua, estalante e barulhento ao descer, rolando para dentro das profundezas de mim mesmo. E por ser licor, deve ter guardado lá no final uma surpresa, aquele torpor do álcool ou dos dias de muito sol, não sei. De dar vontade de sonhar ou dormir, ou mergulhar e ser líquido, fluido, perene, imortal. Licor de cachoeira deve ter gosto de liberdade.

Aí lembrei. Cachoeira é uma cidade. E o licor é de lá. Cidade pequena, brejeira e faceira do chão de pedras redondas, fluindo em ruas e gentes e quietude no meio do mato. Cidade com gosto de liberdade, então o meu sonho ainda vale.