3.4.12

Sob as águas





Sob as águas.


Nadar é o meu mantra. A minha meditação.

Mergulho na piscina e o mundo desaparece. Os pensamentos flutuam e são deixados para trás.

Cercado de água por todos os lados, eu sou uma ilha em movimento. Sem âncora ou mastros, eu sou um navio sem leme, longe de estar à deriva. Navego ao longo de minha própria alma, braços à proa e coração a bombordo. Guio-me pelas estrelas.

Eu nado na superfície das ondas, mas chego ao fundo do que sou. No calmo silêncio do espírito, todas as tempestades serenam. Tudo é bonança. Eu sou uma caravela e o cordame afrouxa, nada se opõe à minha vontade em movimento.

Uma braçada e outra braçada. Uma borda e outra borda. Quando a vida flui, todos os meios são líquidos. E certos.

Eu sou o que me move, eu sou o meu próprio vento que enfuna as velas e me leva à beira do que eu jamais fui. E também adiante – para minha surpresa.

No abismo das águas, eu sou Deus, e descansarei apenas no sétimo dia. Por enquanto é terça, e a criação de mim mesmo está apenas começando.

Eu sou ao mesmo tempo o Filho, meu batismo também é na água. Eu estou no Paraíso, e o meu Céu também é azul.

Subo à tona, abençoado e sem fôlego. 
Certo de que os evolucionistas sempre tiveram razão: 
minha vida também começa na água.
.
.
.