5.4.10



Sobre o amor pelos livros.


Lembro que a paixão pelos livros foi uma das primeiras coisas que nos aproximaram.


Lembro irmos juntos para o Jardim dos Namorados ler trechos de livros que amávamos um para o outro, enquanto todos os outros casais deixavam de lado poesia e prosa e partiam para a prática.

Lembro de te telefonar de madrugada para ler um texto de Clarice, só porque você disse que adorava.

Lembro de comprar vários livros com você na Saraiva, todos de uma vez, e não terminar nenhum, vítima da mesma maldição que te atacava. Ficar meses sem conseguir terminar nenhum volume.

Lembro das nossas estantes abarrotadas de bons romances, contos e poemas, lembro da devassa doloridíssima que promovemos neles para ganhar espaço.

As duas estantes agora são uma, os quinhentos livros agora são menos. Mas eu, com você, sou muito, muito mais.


Ritmos.


Eu sempre me lembro de um trecho do filme Baraka, onde um monge zen caminha no meio de uma multidão de pessoas nas ruas. Bem lentamente. Ele toca o sino que carrega nas mãos a cada passo que dá.

Bem. Devagar.

Sinalizando cada pequeno passo, mostrando a importância de cada momento. No filme, as pessoas ao redor, indiferentes, andam no ritmo louco da metrópole, buscando sabe-se lá o quê. A impressão que eu tive é que o monge é quem andava no ritmo ideal, vivenciando literalmente cada passo desta vida. É a reflexão de quem passa pelos 30 anos, quando alguns dos sentidos da vida são atirados em nossa cara. Como um balde de água fria, que assusta, encharca.

E, principalmente, desperta.