12.7.11

Sequóias



Sequóias.

Olhando as pessoas muito velhas e sua serenidade de quem não espera mais nada exceto a morte, eu penso em maturidade. Se muito tiver a ver desta vida, chegarei aos cem anos lúcido e desassombrado. Mas não irei muito além com este corpo.

É o que me intriga nas sequóias.

Uma sequóia é uma personificação do tempo. Podendo chegar facilmente aos dois mil e quinhentos anos de idade, as árvores mais velhas do mundo presenciaram tudo o que o mundo viveu desde que o Cristo pisou este chão. Desde o nascimento do Buda Sidarta. Desde a Égira de Maomé.

Lembrando das muitas histórias do meu avô, que coisas teria uma sequóia para contar?

Lembrei de um conto de Borges que fala dos imortais. Contrariando as fantasias mais comuns sobre a vida eterna, os personagens do conto perdem o interesse pela vida mundana, e passam os dias olhando o céu e as estrelas, em silêncio. Tentando entender a vida, decerto.

Sequóias não respondem aos nossos apelos, não compartilham verbalmente sua sabedoria. Cabe a nós observar.

As raízes pouco profundas me falam de desapego, de se desprender. Quanto mais presos ficarmos em nosso passado e convicções, menos energia teremos para crescer.

A grossa casca que recobre o tronco me fala de ser impermeável, inatingível pelas intempéries e dificuldades. Ser inabalável nos permite resistir por mais tempo.

O tronco de uma sequóia é formado por várias camadas que se sobrepõem ao longo dos anos. Quando mais velha, mais camadas, como se o íntimo da árvore fosse gradualmente se revestindo de conhecimento. Quando mais velha, mais conteúdo, mais vida interior. É o que dá a base para chegar tão alto – uma sequóia pode passar facilmente dos cem metros de altura.

Os galhos, curtos e finos, perpendiculares ao tronco, nos falam das coisas que acontecem enquanto crescemos. Fazem parte da vida e nos nutrem ao longo do caminho, mas nunca poderão nos desviar do que realmente importa: chegar aos céus.

Uma sequóia sempre foi e sempre será muito mais que uma árvore, é uma promessa silenciosa de elevação. São as árvores que eu mais amo.

Porque, embora silenciosas, têm sempre muito a dizer.

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3 comentários:

Lidiane disse...

Nada a dizer, Bito.
Muito a pensar.
Como sempre, lindo.

As Cartas de Ariel continuam aqui comigo. Amareladas e minhas. :)

Beijos.

Pablo Carvalho disse...

Valeu, Lia. É uma honra poder dividir essas pequenas descobertas com pessoas tão queridas quanto vc e Moca. (A Mai não conta, porque eu divido todas as descobertas e o resto da vida inteira, feliz da vida.)

Maísa Picasso disse...

Eba! Qué Ôto.