25.3.10




Cafezinho.


Preto, com leite, com açúcar. Nada mais tipicamente brasileiro que o homem do cafezinho. Noctívago de profissão, percorre as ruas da cidade com seu carrinho repleto do mais prosaico dos hábitos. Que vai muito além do ato em si: um café é uma vontade, mas também um pretexto, um quase-nada de relaxamento do que quer que seja.

Ser homem do cafezinho é quase uma missão, um elemento crucial na logística das noites.

O carrinho sempre muito enfeitado, com rodinhas, adereços, bibelôs, firulas, cortinas, bandeirolas, texturas, com rádio, com forma de caminhão, com luzes, escudo do time. É como o destaque de uma escola de samba, onde o enredo exalta para sempre as alegrias da insônia e decreta a morte de Morfeu.

Ser homem do cafezinho é também um estilo de vida. Do bate-papo displicente no frio da madrugada, pleno de tempo e cheio de assunto. Do amor rápido nas escadas e garagens com as domésticas, acobertado pela conivência dos vigias. Do cigarro vendido, quando não dividido, aos companheiros de convívio, testemunhas do silêncio noturno onde até os semáforos parecem gritar as mudanças de sinal.

Mas logo vem a despedida, um até breve sem dores, que a espera termina no próximo pôr-do-sol. E lá vai o homem do cafezinho, levando em seu carrinho o calor no copo e o calor humano a quem quiser e precisar – distribuindo despertares pela noite afora.

2 comentários:

Maísa Picasso disse...

Omodeus! Que fofo. Dá uma sensação boa terminar o que há muito a gente quer, né?

Maísa Picasso disse...

loveyou