19.3.10



Estaturas.


Meu avô era um homem grande. Do alto dos meus seis anos, ele parecia um gigante. Imponente com sua bengala e seu dente de ouro, o olhar azul-cinzento atravessando pessoas como se elas não existissem. Quando me olhava, estava sempre fitando um ponto além dos meus olhos. Encarando direto na alma. Ou visualizando meu futuro, não sei.

Meu avô usava um chapéu panamá cinza que, junto com a bengala, dava-lhe um ar de coronel, a austeridade postiça aumentando-lhe a estatura em uns bons oito centímetros. Seu silêncio e o sorriso dourado mostravam um homem orgulhoso e satisfeito com o mundo que ajudou a construir.

Quando ele morreu, eu estava lá. Vi o gigante diminuindo lentamente, definhando primeiro em sua cama, depois num leito de hospital. Os olhos mortiços que custaram a me reconhecer ainda buscavam o futuro, e não ver destino fazia com que se agarrasse à vida com todas as forças. Foram três meses de luta, ninguém esperava tanta força num homem tão velho. O coronel jamais se rendeu.

Alguém disse que crescer é ir se distanciando lentamente dos pés. Quando vejo alguém curvado pelos anos, completo o adágio e digo que envelhecer é reencontrar-se com o chão, a terra da qual todos viemos. Do pó ao pó, como dizem. Sob esta perspectiva, morrer não é desaparecer. É tornar-se maior – dissolver-se no universo.

3 comentários:

Maísa Picasso disse...

Isso é simplesmente
es-pe-ta-cu-lar!
Muuuuuuito bem escrito.

Maísa Picasso disse...

E mais: Nino, não é difícil te enxergar já nos olhos, sua alma é tão a flor da pele.

Lara Corbacho disse...

É Pablito... lembro até hoje de quem me deu a notícia do que tinha acontecido. :(
Saudades de vovô Zezé.
E de você também :)