
Autofagias.
Outro dia, uma amiga me contou ter sonhado com um rato feito de queijo, sendo perseguido por um gato. O rato comia a si mesmo enquanto fugia, para não ser devorado.
Deixando de lado os Jungs da vida, fiquei pensando na imagem de alguém que se mata para não sofrer o terror de ser morto. De alguém que foge de seu maior medo e se consome no processo, não só se paralisa, mas também se extingue. E não é exatamente isso que a maioria das pessoas faz o tempo todo? Se você tem algum exemplo em sua própria vida, fique à vontade.
O outro lado é que queijo, qualquer desenho animado pode confirmar, é o que o rato mais gosta. Qualquer criança sabe disso, e você sabe como as crianças sabem das coisas. O rato é feito daquilo que mais gosta, então existe um auto-amor implícito. Ele se ama ao ponto de dar dentadas em si mesmo. Então a fuga, mais uma vez, é auto-preservação ao ponto da autodestruição. Se você conhece alguém que sabota a si mesmo por puro terror do fracasso, fique à vontade.
Mas ainda existe um outro raciocínio. O rato é feito daquilo de que se alimenta. Exatamente como as personalidades. Todos nós somos feitos do que nos alimenta, nosso queijo é o que absorvemos do mundo. E isso, felizmente, é sempre escolha nossa. Se nos alimentamos da raiva que o mundo nos mostra, consumiremos esta raiva, e nos consumimos nela. Se nos alimentamos do amor, ele nos deixa mais fortes. Se somos amor, nos devoraremos a nós mesmos, nutrindo-nos do que somos, retroalimentação de divindade. Se somos aquilo de que mais gostamos, paramos de fugir como o rato. Nossos medos deixam de nos assustar.
E finalmente percebemos: gato não come queijo.