4.5.07



Voando em torno da lâmpada.


Eu aqui, às nove da noite, tocando violão para uma mariposa. E me pergunto qual de nós está mais sozinho. A mariposa tem a noite, com suas infinitas estrelas. Eu, o violão e a música, com suas mil canções - mas que eu só sei tocar meia dúzia. A mariposa não tem como se dar conta do infinito que a cerca. Mas disso eu não tenho certeza. Não posso ter certeza também se a ignorância é uma desvantagem. Mas não é por isso que eu acho que ela ainda leva a melhor: enquanto eu presumo compartilhar ao mesmo tempo da noite, da música e de sua inusitada companhia, a mariposa ignora o som, a minha preocupação, e talvez também a noite com suas possibilidades. Aliás, se existem possibilidades para ela, são apenas duas: ser ou não ser devorada. Isso a obriga a viver no limite. É a fórmula dos românticos para uma vida perfeita. Ou para uma morte perfeita. A comida tem mais sabor, o vôo tem mais prazer. Neste sentido, a mariposa tem uma larga vantagem. Para ela, esta noite é tudo; para mim, é mais uma noite em meio a tantas outras. Sua ignorância a torna plena, enquanto a minha consciência só me recorda da minha finitude. Pego o violão e dedico a isto uma das minhas seis canções. À finitude, então. E à mariposa.

Fevereiro de 2005

8 comentários:

Guto Melo disse...

O que você não sabe é das canções que a mariposa inventa e canta para a lâmpada.

Anônimo disse...

só vc pra perceber essas sutilezas, né?
;)

uma beijoca no meu Bito preferido!

Maísa Picasso disse...

Em resposta ao comentário do lado de lá: E o que há de tão hermético no homem cuja profissão é mudar?
Tuas palavras me lembram Manoel de Barros quando ele me diz coisas como "ontem choveu no futuro".
Todas essas sutilezas que ora aprecia ora suporta são minhas e eu nem sou nada disso.

Anônimo disse...

que só de pensar em tais coisas
encho o peito de saudade e a alma de tua ausência.
Te amo, P.

Anônimo disse...

Pablito, meu amigo, que texto fantástico. A sutileza das palavras faz com que a solidão que há neste texto passe quase despercebida por nossos olhos. Lindo. Parabéns!!!

Maísa Picasso disse...

Só pra dizer que não paro de ouvir aquela música...

Anônimo disse...

Afemarea...
eu tibilisco,meu amor.
:)

Maísa Picasso disse...

omodeus :)
um beijo de saudade!
enoooooooooorme!